quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

REI MORTO, REI POSTO?


          O escritor espanhol Luis Carandell em seu livro sobre anedotas políticas, explica o termo ‘Rei morto, Rei posto’ com o seguinte fato: durante a guerra da sucessão espanhola o Rei Felipe V estava sitiando a cidade de Barcelona em poder de seu oponente o Arquiduque Carlos da Áustria. Felipe V animou-se a lutar ao lado de seus soldados e estes vendo os riscos que corria o monarca, fizeram-no ver que não deveria fazê-lo, pois nas suas palavras, “Rei não há mais que um”, no que foram contestados com a frase: “Outro haverá; ao Rei morto, Rei posto”
          Nas semanas que antecederam o fim do reinado de Lula o provérbio acima foi citado por ele em suas entrevistas referindo-se ao rito de passagem em que o presidente entrega o poder a outro e se despe dos atributos de instituição, como pessoa que personifica o poder e a nação, tornando-se “ex” (morto).
          Não foi bem assim, o que vimos foi a concessão a toque de caixa de benesses à realeza, renovação de passaportes diplomáticos, obtenção de dupla nacionalidade, hospedagem de luxo em base militar. Ao que tudo indica assim como em Abrantes - seja na conformidade da Lei ou por debaixo dos panos  - continuará  tudo como antes e quem foi rei nunca perderá a majestade.
          Além destas imorais cortesias, uma série de direitos são legalmente oferecidos àqueles que já ocuparam a cadeira mais importante do Palácio (residência dos Reis) do Planalto. Os benefícios não envolvem o pagamento de uma aposentadoria - como ocorre com governadores em alguns Estados (PR, RJ, PA, RS, SC e outros) - mas incluem, com pagamentos feitos pelo erário, quatro seguranças treinados pelo governo e com direito a porte de arma institucional, dois motoristas com dois veículos oficiais (carros de luxo) e dois assessores com salário mensal de R$ 8.988,00, além, é claro, do passaporte diplomático. E mais, em que pese não receberem aposentadoria os ex-presidentes passam às suas viúvas o direito a uma pensão vitalícia no valor atual de R$ 26,7 mil, salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
          Ora, o ex-presidente Lula terá que fazer seu próprio check-in nos aeroporto, carregar suas malas, sentar na arquibancada, comer seu pastelzinho e tomar aquela branquinha, conviver e viver com pessoas e lugares reservados aos mortais súditos, afinal: “Outro haverá; ao Rei morto, Rei posto”. Será?